Em todas as regiões há uma tendência de termos menos água chegando nos reservatórios em relação ao que seria esperado para esta época do ano – Fernando Frazão/Agência Brasil no Brasil
A redução do volume de água em reservatórios importantes na região Sul é o principal motivo para que a bandeira vermelha patamar 1 entrasse em vigor neste mês de junho.
Com menos água disponível, a geração hidrelétrica perde força e o sistema passa a depender mais das termelétricas, uma alternativa mais cara.
Apesar de a região Sul ser a mais impactada, com somente 35,69% de volume consolidado nos reservatórios, o problema se estende para outras regiões.
Esse cenário é medido por meio da chamada Energia Natural Afluente (ENA) — ou seja, no potencial de geração hidrelétrica com base na água que chega naturalmente aos reservatórios.
A ENA estimada para junho pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) está inferior à média em todos os subsistemas.
A região Sul pode atingir 86% da média da ENA esperada para o mês de junho, ou seja, o nível dos reservatórios é baixo (35,69% na média) e está entrando menos água do que o esperado.
Nas demais regiões, a previsão para 30 de junho é de que a ENA chegue a 75% do esperado no Sudeste/Centro-Oeste, 57% no Norte e somente 29% no Nordeste.
Em resumo, em todas as regiões há uma tendência de termos menos água chegando nos reservatórios em relação ao que seria esperado para esta época do ano.
Mais do que um retrato do presente, a bandeira vermelha é também um alerta sobre o que pode vir nos próximos meses.
O cenário atual indica dificuldade de reversão rápida do quadro hidrológico, pressionando o sistema elétrico, comprometendo a previsibilidade tarifária e impondo risco à inflação.
Nem El Niño, nem La Niña
As condições climáticas globais ajudam a explicar esse cenário.
Desde o início de abril, com o término do La Niña, estamos em uma fase de neutralidade, que ocorre quando nem o El Niño ou o La Niña prevalecem. Ao contrário do que possa indicar a palavra “neutralidade”, isso não significa que o clima vai se comportar dentro de um padrão de normalidade.
Pode-se dizer que o clima, na verdade, foge aos padrões de normalidade que seriam esperados, razão pela qual há menos água em todos os subsistemas.
A elevação das tarifas é apenas um dos sinais de que as mudanças climáticas já estão impondo novos desafios à gestão do sistema elétrico.
Garantir segurança energética em um cenário cada vez mais instável exige planejamento, diversificação de fontes e políticas que considerem a nova realidade do clima.