
Notas de dólar: BC começou a fazer atuações no mercado à vista na sexta-feira passada — Foto: Bloomberg Creative Photos
O Banco Central (BC) realizou na manhã desta segunda-feira um leilão extraordinário de dólares, após a moeda americana voltar a se aproximar de R$ 6,10. Foi vendido US$ 1,6275 bilhão, na maior intervenção no mercado à vista desde as primeiras semanas da pandemia de Covid-19, em 2020.
Na última sexta-feira, o BC já tinha atuado de forma parecida, entrando no mercado à vista quando as cotações começaram a subir e vendendo um total de US$ 845 milhões. Antes disso, a última vez que a autarquia havia vendido dólares à vista havia sido no dia 30 de agosto.
Um pouco antes de o leilão ser anunciado nesta segunda-feira, a moeda atingia o patamar de R$ 6,096. A oferta ocorreu das 9h35 às 9h40 e, assim que terminou, o dólar caiu para R$ 6,0309. Às 10h10, a divisa operava na estabilidade e recuava 0,02%, a R$ 6,0333.
Ainda hoje, das 10h20 às 10h25, a autarquia realizou outra intervenção. Desta vez, foi um leilão de linha, operação que tem compromisso de recompra, em que foram vendidos US$ 3 bilhões, em seis propostas. Na última quinta-feira, o BC havia feito um leilão como este, em que vendeu US$ 4 bilhões.
O dólar passa por um movimento de alta desde o anúncio do pacote de ajuste de gastos do governo federal, no fim de novembro. Para boa parte do mercado, as medidas vieram aquém do esperado.
– A intervenção não deve alterar a tendência [da taxa de câmbio], que continua sendo impulsionada pelo dólar forte globalmente e pelas incertezas fiscais (no mercado doméstico) — disse Ian Lima, gestor de recursos da Inter Asset. — Ainda precisamos entender a motivação da nova reação do Banco Central à taxa de câmbio.
Em dezembro, costuma haver uma maior demanda por dólar, já que muitas empresas fecham suas operações de câmbio.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central subiu a taxa básica de juros Selic em 1 ponto percentual, para 12,25%, e afirmou que se fosse necessário realizaria mais duas altas na mesma magnitude. Ainda assim, o dólar, que atingiu sua cotação máxima histórica contra o real em 29 de novembro, seguiu em alta no mercado brasileiro.
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O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, já afirmou que o Banco Central só atuaria no câmbio caso o mercado apresentasse um comportamento disfuncional.
Enquanto o BC realiza uma queda de braço com o mercado nas cotações do câmbio, as taxas futuras de juro estão subindo com força na manhã desta segunda-feira. Essas taxas já abriram em alta reagindo às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na véspera, quando criticou os juros elevados. E passaram a subir com mais força após o leilão de dólares.
— Quando existe a percepção de que o BC vai segurar o nível da moeda, o prêmio de risco sai do real e vaza para os outros ativos de risco, neste caso o DI [contrato de juros] e muitas vezes na Bolsa também — diz Gustavo Okuyama, gestor da Porto Asset.
Em entrevista ao Fantástico, após ter recebido alta do hospital, ao ser questionado sobre o pacote fiscal, Lula afirmou que a “única coisa errada” é o juro acima de 12% ao ano. Lula disse ainda que a irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia, não é do governo.
O DI para julho de 2025 subiu de 13,89% ao ano para 13,96% ao ano. A alta de juros foi mais intensa nos contratos de longo prazo. O DI para janeiro de 2031 chegou a 14,65%, contra 14,35% na véspera.
Para Anna Reis, sócia e economista-chefe da Gap Asset, o juro sobe porque o pacote fiscal segue sem solução:
— Não há qualquer indicação de que o governo prepara qualquer coisa para reverter essa crise — afirmou, acrescentando que a entrevista de Lula no domingo foi neste sentido, já que o presidente voltou a criticar o mercado.