Materiais apreendidos com adolescente durante investigação. (Polícia Civil )
Dois estandartes com suásticas e mensagens com conteúdo nazista. Todo esse material foi descoberto no quarto e no celular de um jovem de 14 anos pelo próprio pai, que o denunciou à polícia. A investigação, que continua em andamento, revelou que o adolescente admitiu ser o dono dos itens e participar de conversas em um aplicativo sobre nazismo, além de expressar uma certa adoração ao movimento.
“Ele relatou que inicialmente tinha apenas interesse histórico, mas esse interesse evoluiu para uma adoração ao nazismo e à supremacia branca após ser discriminado por um amigo negro na escola. Isso despertou nele um maior interesse sobre questões raciais”, explicou o delegado Brenno Andrade, chefe da Divisão Patrimonial e titular da Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Cibernéticos.
Após o boletim de ocorrência registrado pelo pai, o jovem declarou que o celular contendo todo o material já havia sido vendido pela mãe como uma forma de punição. No entanto, ela acabou dando a ele um novo aparelho, no qual ele se uniu a grupos de mensagens que fazem apologia ao nazismo e veneração a Hitler. A continuidade da participação em círculos de ideologia nazista foi descoberta quando o novo celular foi apreendido durante a execução de um mandado de busca e apreensão na casa do garoto.
“Na residência, encontramos outra bandeira com suástica. Ele afirmou que não tinha planos de ataques, mas sabemos que isso pode ser um gatilho em qualquer momento, especialmente com o estímulo proveniente dos grupos”, enfatizou o delegado.
A polícia recomendou à família que encaminhasse o jovem para tratamento psicológico. O Conselho Tutelar foi notificado sobre o caso e acionou a Vara de Infância e Juventude, sugerindo que fosse considerado um ato infracional análogo ao racismo. “Em situações assim, é crucial ressaltar que não adianta apenas realizarmos o trabalho inicial; é essencial manter um acompanhamento contínuo. Começamos a investigar rapidamente, cientes da gravidade desse tipo de situação, que pode até levar a ataques escolares. Alguns criminosos que realizaram ações semelhantes se baseavam em grupos neonazistas”, destacou o delegado.
Por que a defesa do nazismo é considerada crime?
A lei de 1989 sobre racismo prevê penalidades específicas para o uso de símbolos associados ao nazismo. O STF já determinou que a liberdade de expressão não se aplica a apologia do regime de Adolf Hitler.
O adolescente revelou que há outro capixaba no mesmo grupo que ele — que também conta com membros de outros países. No entanto, a identidade do suspeito que seria do Espírito Santo ainda não foi revelada. “Estamos com a materialidade e faremos esforços para avançar na identificação de outros envolvidos, embora a colaboração internacional seja mais desafiadora. O celular está apreendido e a perícia está em andamento para descobrir mais informações”, concluiu Andrade.